segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

TATUAGENS NAS PRISÕES RUSSAS – PARTE II

Este é o segundo texto que preparamos para falar do significado e da história por trás das tatuagens nas prisões russas. Se você não leu a primeira matéria, vale a pena ver “Tatuagens nas prisões russas
Significados de alguns desenhos
Quando se entra para a gangue dos ladrões, faz-se uma tatuagem de iniciação no peito: um desenho de uma mulher e, às vezes, de uma rosa.
Se a mulher aparece no estômago ou na região lateral da barriga, revela uma relação com uma prostituta ou com crimes de prostituição.
Mulheres nuas ou com os seios à mostra são, também, sinais de revolta contra o sistema comunista e de recusa à submissão.
Tatuagens pornográficas são feitas em sujeitos que não pagaram suas dívidas contraídas em jogos.
Os símbolos que suscitam maior respeito são as estrelas náuticas. Tatuadas nos joelhos, indicam um prisioneiro que não se ajoelha diante de ninguém, que não se submete nem às autoridades nem aos presos mais fortes. As estrelas nos ombros revelam aqueles que já confrontaram e até atacaram guardas.
As caveiras são tatuadas no braço ou na mão com a qual o sujeito mata. O número de caveiras nos dedos corresponde ao número de assassinatos cometidos. Crânioscom os dentes salientes, principalmente no peito, são tatuados por aqueles que se rebelam contra as autoridades, como uma provocação.
As dragonas (ornamentos militares usados nos ombros) indicam as “patentes” dos presos que pertencem ao grupo Vor v Zakonye, de acordo com o “lugar” que ocupam na hierarquia prisional.
Os olhos têm vários significados. Quando feitos próximos aos ombros ou acima do peito, significam que aquele preso mantém seus olhos bem abertos, e que suas tatuagens não foram feitas à força. Na parte de baixo das costas, indicam que é um prisioneiro “usado” para gratificações sexuais. Na parte inferior do tronco, um pouco acima dos quadris, significam que aquele preso foi rebaixado dentro da gangue, passou para uma casta inferior.
Crucifixos são carregados pelos “príncipes dos ladrões”, o status mais alto que um preso pode atingir; se o crucifixo tem uma coroa, é porque o indivíduo é um líder do grupo. Quando a tatuagem é de Cristo crucificado, significa que o preso foi oprimido e sentenciado pelas autoridades, como Jesus.
Sinos mostram que o condenado não tem direito à liberdade condicional, por ter cometido um crime grave. Tê-los tatuados garantem o respeito dos demais internos.
Animais com os dentes à mostra representam hostilidade e rancor em relação às autoridades.
Cobras ao redor do pescoço e nos ombros são feitas quando a pessoa sente que o sistema soviético ainda afeta a sua vida negativamente.
As aranhas revelam os ladrões: se ela está subindo pela teia (normalmente do ombro para o pescoço), significa que o indivíduo é um ladrão ainda em atividade; se ela está no sentindo contrário, descendo a teia, indica que o sujeito parou de roubar. Aranhas em teias também são símbolos usados por viciados em drogas, que roubam para manter o vício.
Alguns assaltantes também tatuam gatos: se o gato aparece sozinho, é porque o assaltante trabalha assim; se é um grupo de gatos, significa que o assaltante trabalha em grupo.
Ratos são tatuados à força em prisioneiros que roubam artigos dos outros condenados.
Cada domo de uma catedral que é tatuado representa uma sentença cumprida. Se a catedral é tatuada na mão ou no braço próxima a uma algema no pulso, significa uma sentença de mais de cinco anos.
Criminosos que são condenados à prisão perpétua sem possibilidade de condicional costumam exibir um arame farpado na testa. Em outros locais do corpo, o arame é tatuado com um número de “nós”/farpas correspondentes ao tempo da sentença.
Suásticas ou símbolos nazistas eram tatuados como provocação à autoridade soviética.
Runas são tatuagens daqueles que não confessam. Também pode indicar alguém que não se submete às autoridades.
Borboletas são tatuadas por indivíduos em quem se pode confiar, e que são verdadeiros “artistas” da escapatória.
Cavaleiros ou soldados com armaduras indicam um sádico, condenado por agressão e espancamento. Também são tatuados em “executores” de prisões (que matam outros presos a pedido da gangue) ou por motivos racistas.
Um gênio saindo da lâmpada é a tatuagem dos condenados por crimes relacionados às drogas.
Uma adaga é o símbolo do predador sexual. Mas, se ela estiver tatuada nos ombros, como se atravessasse o pescoço, com gotas de sangue pingando da lâmina, significa que aquele é um assassino perigoso, que deve ser temido ou solicitado nos casos de se querer um parceiro para cometer assassinato.
Um navio mostra que o preso deseja escapar da prisão. Quem pretende escapar sabe, então, que pode contar com aquele sujeito para ajudar a elaborar um plano.
Tatuagens de anéis ao redor dos dedos, com formas específicas, representam status diversos. São símbolos de poder, de crimes cometidos e de penas cumpridas, entre outros.
Cinco pontos na mão significam que, em algum momento da vida, a pessoa esteve presa. São quatro pontos que representam as torres vigias cercando um ponto que representa o prisioneiro.
A Madona segurando o menino Jesus nos braços revela que a pessoa está envolvida com a criminalidade desde muito cedo.
Flores como a tulipa ou a rosa atravessadas por uma faca ou envolta em arames são as tatuagens daqueles que estiveram presos antes de completar 18 anos.
Muitos tatuam frases pelo corpo todo. As tatuagens expõem seus valores e crenças pessoais.
Mudanças no sistema
A partir da década de 1960, alguns prisioneiros passaram a se tatuar de forma mais aleatória, não seguindo as regras mais tradicionais e optando por desenhos mais elaborados e temáticas diversas, geralmente com motivos mais pessoais. Desde a queda do regime soviético, os códigos das tatuagens não são mais tão rígidos e podem ser escolhidos por cada preso.
Tintas e máquinas
Para obter a tinta, os prisioneiros queimam pedaços de borracha (retirados das solas dos sapatos) até que se tornem cinzas e as misturam com a urina de quem será tatuado. Incrivelmente, a acidez da urina reduz o risco de infecções – e o fato de o tatuador usar uma secreção da própria pessoa a ser tatuada previne contaminações! Para  coar a tinta, retirando a fuligem da borracha, basta usar um lençol e recolher o pigmento com um pequeno pote.
As máquinas artesanais são feitas com canetas e pequenos motores montados a partir de peças de rádio. As agulhas são cordas de violão lixadas.

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